A primeira vez que me apaixonei achei que o mundo pudesse parar de girar pelos meus sentimentos. Nada mais óbvio do que aquele amor. Ele lia nos meus olhos que nada mais fazia sentido a não ser por ele; e sabia, em seu íntimo, que nada jamais se concretizaria. Como eu sei disso? Simples: não só porque tínhamos um amigo em comum (que era mais amigo meu do que dele), mas também porque eu tinha pouca idade, mas não pouco entendimento. Eu jamais li tanta Filosofia na vida! Hoje tenho a felicidade de saber que nada aconteceu -- não apenas porque era certo que eu me daria muito mal, mas também porque macularia todos os meus sentimentos posteriores.
Ele nunca soube que sou grata por ele ter resistido a qualquer possibilidade e que, ao mesmo tempo, sou grata por saber que fui faíscas de encanto. Essa história toda, cheia de detalhes hoje irônicos, marcou de forma interessante. Eu discutia assuntos de adultos com uma capacidade incrível, lia tratados sobre temas que me fugiam qualquer entendimento. Passava tempo a divagar sobre profundezas que não concerniam à minha idade e passava horas a lamentar sobre a data impressa na minha carteira de identidade. Para tornar a situação ainda mais inusitada, os meus pares começaram a entender que o objeto da minha afeição era outro...aquele que não aceitava que eu gostasse do seu amigo. Ele me dizia para olhar para os lados, criou a famigerada "lista dos 5", tentou arrumar nomes que fossem mais compatíveis comigo, repudiava o meu afeto de todas as formas...dizia que era uma cisma, apenas.......mas nada disso ajudou muito. Enquanto foi tempo de amar o meu primeiro amor, eu o amei. Da forma mais platônica possível, mais intensa, mais devota.
Hoje retomei essas lembranças mais do que antigas por uma razão simples: naquele tempo eu queria muito que as coisas acontecessem, eu sabia onde encontrá-lo, sabia o que dizer, não tinha medo de nada nem de ninguém. Hoje eu não me entrego mais a tais devaneios. Inclusive, hoje eu me encontro muito feliz por saber que praticamente todo domingo é dia de flores...vou montar um jardim belíssimo com todas essas flores, com toda essa promessa de amor real. Daquela primeira paixão guardo algumas lições, uma repulsa pela Filosofia e a certeza de que nesses últimos 12 anos e 340 dias eu fiz nada mais do que viver intensamente. Eu explorei o mundo e todas as possibilidades de existência que me pareceram boas. E hoje posso, facilmente, dizer que espero, verdadeiramente, que esse jardim ora por montar seja dividido com aquele que decidiu me encantar e que eu decidi admirar.
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