Recentemente, ela confidenciou que estava preocupada com o paradeiro das suas palavras escritas. Ela queria entender onde estavam os seus frequentes textos. Isso após, deliberadamente, ter resolvido que era hora de voltar a redigi-los.
Abro parênteses para transcrever seus termos: Nada mais especial do que sentar-se a uma mesa diversa e ouvir, no seu âmago, o som das palavras que querem ser vida. Sim, parece que a fase do silêncio é terminada, minha cara! Fecho parênteses.
Ela acredita que as mulheres esperam ser salvas. Com essa concepção, ela já me explicou diversas vezes o sucesso dos príncipes de contos de fadas, a importância dos valentões. Ela argumenta que, mesmo inconscientemente, o que uma mulher quer em um relacionamento é ser salva. Eu já lhe disse que isso não pode ser tão verdadeiro. Nem universal. Mas não importa. Vez por outra tenho que ouvi-la, novamente, com essa teoria.
Há pouco, em uma fala rápida, marcada por uma quantidade de energia que sequer sei de onde pode ter vindo, ela me contou que acredita que possui a prova da busca incessante da alma feminina pela salvação -- a sua salvação provida por um homem.
Ela relatou que, um dia, um homem tentou ajudá-la. Era um dia fatídico, o pior dos piores. Naquele dia ela não podia compreender absolutamente nada, mas ele esteve ali. Ao seu lado. E, desde então, parece que as coisas mudaram dentro dela. Vez por outra, pensa na salvação que ele lhe dispensou -- e isso faz com que tudo tenha sentido. Cria uma razão no coração dela. Uma explicação para a sua teoria de salvação. E faz com que tudo fique mais simples, mais categorizado.
Eu confesso que não sei ao certo o que a levou a pensar essas coisas. Também não compreendo a relevância de tais pensamentos. Desconfio, ainda, que nenhuma parte disso faz sentido. Mas, esta noite, reservei-me ao direito de apenas ouvi-la falando. Aquela fala rápida, vigorosa e precisa.
Gosto quando ela é efusiva, quando sabe onde vai, o que faz. Gosto quando ela tenta me provar que tudo está a fazer sentido. Gosto quando ela está saltitante por aí a desfilar teorias -- mesmo as mais obscenamente absurdas. E é por tudo isso que celebrei com ela a volta de suas palavras, o retorno de seus textos. Mesmo que ainda seja algo incipiente e de duvidosa precisão. Pouco importa. Essa noite, nada que vá além da (pueril) felicidade dela importa.