12.1.14

A liberdade e o caminho.





A caminhada desta noite me fez perceber que eu conecto a liberdade com os passos. Refiro-me aqui especificamente aos passos certeiros, firmes, mas sem horários, sem medidas determinadas. Trata-se daquele caminhar despretensioso, aquele que faço com uma intensidade só minha, que traço sozinha. 

Há muito tempo estou cônscia de que gosto de caminhar, de poder resolver minhas coisas andando, de fazer tudo o que preciso sem ter que usar outros meios que não os passos -- os meus passos. Mas geralmente eu me atenho aos detalhes cronometrados quando estou a caminhar para as minhas atividades cotidianas. Sei precisamente quanto tempo levo de um ponto ao outro, a intensidade que as passadas devem ter. Quando eu estudava em Madison (WI), por exemplo, eu sabia exatamente o número de passos do meu prédio até a faculdade. E os minutos que elas me tomavam, por óbvio.  

A época em que eu fiz as mais constantes e intensas caminhadas foi quando estava na Itália. Eram 7 km por dia, em uma passada bem firme e determinada. Eu tinha hora para sair de casa, tempo praticamente exato para chegar ao destino e um sapato reservado aos longos passos. Naquele tempo eu tinha uma companheira incrível para as caminhadas diárias. Discutíamos um mundo de temas, ríamos do mesmo senhor sem limites a nos paquerar diariamente no nosso caminho -- apesar de o ignorarmos permanentemente, e nos atentávamos a algumas pessoas que estavam sempre no nosso trajeto. Dia após dia. Mas os nossos passos, como disse, mantinham uma velocidade marcada, uma intensidade ritmada. Até um certo ponto, o ponto da pausa para brincar com o cachorro fofo que morava em um estabelecimento em que passávamos na porta. Um cachorro lindo, que nos fazia ficar triste por vê-lo tão só, e que me deixava com saudades do meu Yuki, que estava do outro lado do oceano.  


                            Era com ele que sempre parávamos para brincar. 

Os momentos em que estou movimentando, seguindo os meus próprios trajetos e respeitando tão somente o meu ritmo, marcam em minha alma uma realização quase palpável. É um contentamento. E é exatamente por tudo isso que tenho certeza que devo manter (e intensificar) os passos que me levam aos locais em que quero chegar e que me arrebatam com uma sensação de felicidade e de liberdade.

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