7.1.10

Epílogo do monólogo



Recentemente tenho pensado bastante sobre a diferença entre aqueles que estão mortos e aqueles com quem não mantemos quaisquer laços (mas que vivem). Não cheguei a nenhuma decisão resolutiva, mas devo dizer que já abandonei as linhas do pensamento após um pouco de centrada reflexão. Acontece que me pareceu não ter tanta diferença (prática), a não ser o fato que os vivos podem (eventualmente) manter qualquer diálogo, responder dúvidas, expressar as moções de seus pulsamentos. Já os falecidos nos deixam (sempre) com os meandros do monólogo.

Desde muito pequena me acostumei a criar cenários e falas. Situações perfeitamente articuladas. Com diálogos bem definidos, figurinos detalhados, em um cenário absolutamente descritível. E os anos se passaram e tal atributo não se esvaiu. Muito pelo contrário, possivelmente se tornou ainda mais elaborado.

Mas não raro os monólogos rodeiam os que são vida (aqui devo também me implicar). Mas não deveria ser assim...muitas vezes. Porque em um sopro (puff!) tudo se esvai. E restam as lágrimas (novamente, mas desta vez inconsoláveis), a dor e os monólogos mentais.

Talvez o silêncio não devesse se fazer tão constante. Talvez devesse. Na verdade eu arrisco a dizer que os silêncios, por si só, podem ser até bastante aprazíveis; mas se os silêncios existem ao passo em que monólogos mentais são construídos, certeiro é que algo carece de tintura de iodo. Uma operação delicada de exposição deve ser criada. E por este motivo os diálogos se tornam praticamente mandatórios. E causam a redenção daqueles que viviam submersos em monólogos.         

 

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