Minha primeira neve. ~~ 4.23 da tarde.
Não me recordo quando comecei a esperar por ela, mas sei que foi na minha mais remota infância. Aos sete anos vim para os EUA pela primeira vez e me lembro de ter ficado ligeiramente decepcionada por não ter visto a famigerada neve. Era verão.
E os anos se passaram. Mas continuei esperando pela oportunidade de vê-la. Mas este dia não havia acontecido. Até hoje.
Não me recordo quando comecei a esperar por ela, mas sei que foi na minha mais remota infância. Aos sete anos vim para os EUA pela primeira vez e me lembro de ter ficado ligeiramente decepcionada por não ter visto a famigerada neve. Era verão.
E os anos se passaram. Mas continuei esperando pela oportunidade de vê-la. Mas este dia não havia acontecido. Até hoje.
Fui para a aula cedo mas estava quase congelando na sala. Nas segundas feiras o meu intervalo entre a aula da manhã e da tarde é de apenas 20 minuto. Hoje resolvi apressar os 159 passos que separam meu dorm da Faculdade de Direito e fui buscar um casaco extra. Não sei porque eu pensei: hoje neva.
Na volta estava garoando. Pinguinhos leves. E um contorno de bolinhas brancas, minúsculas, que se esparramavam como gotinhas de chuva no chão. Não sei descrever o que senti. Foi algo mais especial do que eu pude imaginar nestes longos anos em que esperei por ela. Sim, meu coração bateu forte, meu rosto era só um imenso sorriso. Mas como boa mineira que sou desconfiei que aquela experiência poderia não ter sido nada além de uma ilusão. Talvez seja só mesmo uma chuvinha e minha miopia, meu astigmatismo, minhas expectativas e imaginação estejam criando as bolinhas que desaparecem antes mesmo de tocar o chão, pensei.
Perguntei se nevava ao chegar na sala. Mas perguntei baixinho, discretamente, para não me fazer de boba. Não sei, está nevando? Foi o que ouvi. Eu disse: não sei. Nunca vi neve...talvez não.
Conversando ao telefone com Maggie, depois da aula e já de volta ao dorm, ela me disse "there is snow today". Sim, hoje. Bom, vivi o momento, pensei. Vou escrever sobre ele tão logo eu possa me assentar na frente do computador. Ela estava vindo para o meu quarto para conversarmos e ao desligar o telefone olhei para janela e vi aquelas bolinhas brancas caindo lá fora. Não tive como me conter.
Comecei a gritar e pular, sozinha no quarto. Mas eu precisava dividir este momento tão precioso com alguém. Os momentos mais sublimes são contemplados na sua integralidade quando divididos. Eu tinha que dividir! Pensei, em uma fração de segundos, em todos que não estão aqui e que queria que estivessem ao meu lado neste momento. E num átimo de segundo abri a porta do meu quarto aos berros e comecei a pular e gritar para as meninas do corredor e do quarto da frente: está nevando!! Está nevando lá fora! Está nevando!! É a primeira vez que vejo neve!!
Elas se simpatizaram com este fato – aqui todos se simpatizam quando eu e uma meia dúzia de dois ou três falamos que nunca vimos neve - e duas delas me chamaram para ir lá fora. Claro que iria com elas para ver a minha doce e querida neve. Mesmo sem sequer saber o nome de uma delas. Maggie chegou e descemos.
O frio lá fora está desconcertante. Faz mais frio do que fez desde que cheguei aqui. E já me disseram que vai piorar. As bolinhas branquinhas caíram por pouquinho tempo. Menos tempo do que eu precisava para pular e tirar duas fotos. As fotos eu tirei. Mas minha primeira neve vai ficar mesmo aqui dentro, porque ela não quis ser fotografada. Talvez porque quando explicadas ou quando fotografadas as coisas não mostram a sua verdadeira intensidade, a sua verdadeira essência. E minha primeira neve não pode ser explicada. Sua beleza na minha vida transcende qualquer palavra, qualquer imagem, qualquer som.
Eu digo, com toda segurança que posso ter para dizer: valeu esperar. E continua valendo porque nem posso imaginar como será quando olhar para minha janela e vir tudo branco lá fora. Ou quando deitar no chão para brincar de fazer anjinhos, quando puder realmente carregá-la em minhas mãos e me esbaldar. Nestes momentos epifânicos só me resta pensar como Deus criou cada detalhe para nos agradar. E como isso é indescritível e grandioso.
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