31.7.07

Sentimentos e piruetas.....



Querida Bia,

Hoje posso, novamente, compartilhar com você sentimentos e vivências de outrora. Não que sejam todos absolutamente iguais. [Não. Não são.] Eles hoje possuem contornos e gostos diversos, melodias e aromas novos. Hoje são eles mais intensos, mais caprichosos. Seguindo a linha da POLITIK Kousina eu arriscaria dizer que são a canela da minha existência - doce e amarga canela...

Mas talvez eu me faça existência a despeito deles. [Algum dia. Talvez]. Que digo?

Sinto, amiga querida, que talvez jamais possa me deleitar nos embalos de um clássico sem desejar profundamente rodopiar levemente. [Livremente.] Sinto que talvez meus pés estejam fadados aos estragos de uma ponta apertada, de um dedo calejado, de um sangue derramado. Sinto, ainda, que talvez as coisas pudessem ser diferentes - e que apenas não são porquanto já me acostumei com as intensidades de cada pirueta, com o desafio de completá-las. Todas. [E mais uma. É óbvio.]

Sei que carregamos em nós, de alguma maneira, a semente de todos esses anseios. Sei também que as lágrimas que derramo agora não são mais dolorosas que as de outrora. Mas posso garantir que os banhos no escuro me pareciam menos cruéis que estes longos períodos de olhos cerrados... Sim, agora eles se fecham. Fortemente. Como se não mais tolerassem qualquer vestígio de tudo isso.

Querida minha, o mundo se divide em dois mundos: no mundo dos que jamais nos compreenderão e no mundo dos que já passaram por esta condição. [E aqueles acreditarão que eu escrevo agora sobre o Ballet - que tanto amamos, sobre os pés machucados e as pontas apertadas. E aqueles terão a certeza de que nossa vida é mais de piruetas e sinfonia do que de qualquer outra coisa. E aqueles jamais sonharão adivinhar do que falo agora. E digo mais: assim está bom.]

Assim, novamente agradeço por existir. E por me compreender. Sempre.

Sinceramente,

C.