Do alto dessa cobertura eu ouço
os sons de músicas e risadas animadas de uma festa qualquer. Eu não conheço os
motivos ou os personagens desse evento barulhento. Sequer sei precisar de onde tais
sons ecoam. Entretanto, tenho certeza de que eu queria estar lá. Nessa festa
que ocorre agora, em todas que ocorreram na minha vida e nas que ocorrem por aí
-- e que sequer me pertencem.
Eu consigo ver meu corpo se
balançando nos altos saltos que adornam os meus pés. Sim, os saltos altos que
te faziam dizer que minha altura se exagerava ao seu lado. Os saltos que te
faziam jurar que eram os devidos para andar no frio. Os saltos que me deixavam
encantada, que faziam com que me sentisse encanto.
E eu dançaria, incessantemente,
ao ritmo da música. E não me importaria se você afirmasse que esses sons sequer
são músicas. Ou se você insistisse para que eu usasse esmaltes de outra cor ou
pedisse que eu fizesse passos para músicas Venezuelanas ou sei lá o que. Eu me
acabaria na liberdade de uma noite bem dançada, de uma festa bem aproveitada.
E eu chegaria em casa com um
rubor bem meu, dormiria ao lado de uma pelúcia qualquer e saberia que no dia
seguinte – assim como em todos os demais – eu poderia fazer o que fosse
necessário para alcançar meus objetivos, para realizar os meus sonhos.
Hoje eu tenho dúvidas. Não consigo
ao certo saber onde foram parar tantos sonhos bem sonhados, tanta força bem
direcionada.
Hoje meus pés gostam mais de
sapatilhas e meu corpo prefere as noites carregadas de bons filmes e jantares.
Hoje eu sei o que é o amor com suavidade, o amor com maturidade. Hoje eu não mais
tenho medo de ser impulsionada a largar tudo por aquele sonho da criança estranha
que fui -- aquela que queria falar húngaro.
Hoje eu sei muito bem onde eu quero
ficar. Mas o lugar onde quero estar tem que ter as gargalhadas das festas que
eu fui. Tem que ter a segurança de que a minha cama estará lá a me aguardar no
final do dia. Tem que ter um balanço no quintal. Ou um banco. Ou sequer um meio
fio. Qualquer coisa que possa me fazer saber que tenho onde parar para refletir.
Ou para conversar. O lugar onde eu quero estar guarda a possibilidade que eu
descubra a resposta para as dúvidas que tenho hoje e que encontre os meus
sonhos. O lugar onde eu acredito que pertenço tem o poder de me trazer de volta
para aquilo que fui e de me levar para o que serei.