13.9.10



Hoje eu encontrei com uma velha amiga. Cicciona. Para dizer a verdade, ela é mais ex amiga que ainda amiga. Eu realmente não tenho muita paciência com pessoas que ficam a me dizer o que pensar, o que fazer. Ela tem dessas coisas. Ela fica a achar que seus pensamentos são os únicos, que os seus atos (ou falta deles) são os melhores. E é exatamente por isso que nossa amizade não durou muito. 

Eu insisto em achar que lhe falta um pouco de saúde. Ela e essa obsessão toda...isso não poderia ser normal. Ela, como sempre, ficou a dizer os absurdos alheios. Exagerando cada detalhe. Ela tentou me convencer a juntar sacos e sacos de tralhas, me desfazer de um mundo ("nem que seja para jogar tudo pela janela", dizia ela). É isso, é exatamente isso que me faz não tolerá-la: essa necessidade absurda de querer controlar o que não lhe diz respeito!! 

Por um tempo ela me pareceu fighissima, mas logo percebi que não nos daríamos jamais. E foi nessa época que nos afastamos. Um verdadeiro divórcio. Eu parei de ouvir seus recados, comecei a ignorar tudo aquilo que vinha dela: seu modo de pensar, suas palavras, seus atos....sua presença. Hoje eu evito, inclusive, os lugares que frequentávamos juntas.

Eu a ignorei. E desde que me afastei daquela schifosa minha vida mudou muito. Parece bobagem, mas é a mais sincera verdade. Hoje ela decidiu dar o ar da graça ("desculpa, alguém te convidou??"). Ela veio como nem não quer nada, quis dividir um chá, contar que achava um absurdo ele não checar como ela estava, blabla. Eu é que acho um absurdo ela se importar com isso, se me é permitido ter uma opinião! Ela deveria parar de pensar que essas bobagens me importam!! Talvez assim ela parasse de perder seu tempo conversando comigo, desfilando essas bobagens que há tanto não me importam. Mas acho que ela ainda não se deu conta de que não temos mais uma relação. Ela conseguiu ser absolutamente inconveniente. E a pior parte é que ela me tomou um tempão do meu dia...e tempo perdido não volta atrás!

Bom, mais uma vez repeti as razões que me levaram a não mais querer que ela fosse parte da minha vida. Disse que não mais tomarei chá ou coisa que o valha com ela, mesmo que me diga que tenha "algo muito importante para dizer". Eu tentei ser enfática o suficiente para que ela entenda, de uma vez por todas, que esse relacionamento não existe. Ela que busque alguém que goste de ouvir opiniões e palpites (não pedidos); alguém que tenha maior tolerância aos comentários maliciosos e impertinentes que só ela sabe fazer! 

Crueldade? Crueldade é falar sobre assentos de ônibus, sobre cremes alheios, sobre faltas de respeito, sobre tralhas...crueldade é aparecer sem ser convidada e querer tomar os meus chás recém chegados da Polônia, enviados com tanto amor. Isso sim é falta de caráter e crueldade!!
   

5.9.10

Turkey (not the Potbelly one!)



Last night I dreamed that the airplane landed and I read a big board saying "Welcome to Turkey". I simply thought: "Neat! I always wanted to visit Turkey anyway!!". Then I started wandering around the airport and I remembered that someone once told me that it was not nice for a lady to be walking alone in a certain country.......I tried to remember which country it was, but since I couldn't, I figured out it might as well be Turkey, so I decided to be careful (In fact it was not Turkey. Now that I am awake I remember which country it was, but I'd rather not mention it here).

I started trying to find a cab but I saw none. So I went to a group of police officers and asked them where I could get a cab. A nice policewoman told me that she could call for a taxi for free for me; she just needed the address of the place I was heading to. I told her I didn't know...so she said she couldn't get me a cab.

I had no clue why I arrived in Turkey and where I was going afterwards. I had a feeling that I might be going to Germany in 3days, but wasn't sure. I had no guides, no idea of what was about to happen and why I went there. The simple fact that I was in a neat place was enough. I thought about going to a Hotel, but I wasn't sure how much money I should spend, since I didn't know for how long I would be staying there. At that point I assume I should be trying to figure out what to do next, but I simply remained there chatting with the group of police officers. They were all so nice to me. One lady mentioned that she was also a foreigner and I asked her from where...she replied, in French (but with an accent), that it was not a neat place. I kept looking at her face imagining where she could be from...I had a guess but I didn't dare saying it, as she would think that I figured out her origin just for listening that her country was not interesting. And for a moment I wondered if there is such a thing as an uninteresting country. But then we just kept on chatting. After few minutes I knew that 2 of them were a couple, but their high officer shouldn't know that. We were all chatting, as old friends. I had the feeling that the foreigner one would invite me to stay at her place while I would be in Turkey -- we were already too good friends. At a certain point I said something in Italian and then corrected myself back to English.....then I told them the only sentence I know in Turkish....... And even when they were all talking in a language I can't distinguish a sound, I felt like I could. Everything was so natural....so normal. 

Estranho esta coisa de sonhar com a Turquia. Mais estranho ainda uma Turquia sem planejamento, sem causas ou finalidades claras. Estranho o contentamento apenas por estar em um lugar diverso, carregado de possibilidades infinitas, cheio de novidades. Eu não consigo me lembrar se falei da minha origem, mas acredito que não. Souberam que eu não era dali e isso foi suficiente. Como aquela outra, que se disse estrangeira......bastou dizer que não havia nada demais naquele detalhe de nacionalidade para que o assunto fosse interrompido (em Francês). Tentei entender suas feições, seu olhar. Eu a havia tomado por Turca, e muito bem ela poderia sê-lo. Ela saiu de casa (Onde é casa? Where is home?), fez novos amigos, aprendeu uma língua diversa e vestiu um uniforme. O que mais precisava para ser um deles? Ponto e basta. 

Gostei de experimentar um absoluto acaso, cheio de possibilidades. Sei que não saber para onde vou não costuma me parecer muito interessante. Sei bem que fiquei enfadada de não poder planejar os próximos meses...sei que muito por isso eu decidi trocar de prioridades não há muito. 

I indeed gave up much to be where I am right now. I gave up concrete things for something else....I am still fully confident it was the correct choice. And I want to pay off the debts I left for not helping those kids in D. just by being able to do what my heart burns for.....I can still work with the things I love....but in a different perspective (It is the first time I write about that...still not in a concrete way, but it is a start). 

I did so much in order to not be unaware of the following months but what is life if not an airplane that takes you anywhere (as Turkey, why not?!)....for those who shared with me the feeling of having soup or vegetables with curry and a touch of "despearation" for not knowing where we would be in a while, I really don't need to say much. 

But it really surprised me that a dream would make me acknowledge that even working hard to have roots one can never know for sure where he is heading to. And even though it could be a little dangerous for a lady to be wandering around, it is unbelivable interesting to deal with the huge and amazing board saying "Welcome to Turkey!!", a place you didn't plan heading to. 
  

 
 

 

2.9.10

Per A.



Querida Amora,

Eu sei que talvez não devesse estar te escrevendo por agora. Mas o faço porque esta noite eu quis poder colher refúgio na sua casa, ao seu canto. E você não saberia jamais se eu não ousasse falar. Esta noite quis fazer promessas em P.S.S.´s infinitos, quis ouvir sobre os braços perdidos de Piteco. 

Esta noite queria terminar um mundo e abraçar um universo... Esta noite eu quis muito poder perder as minhas raízes (e eu tenho isso?), quis ver tudo parar. Esta noite eu não me senti cansada, mas sim verdadeiramente consumida. Esta noite queria poder descontar os espaços e tempos que nos separam para criamos nossas conversas infinitas. Queria esquecer de todo esse mundo jurídico absoluto que me circunda...(só por alguns instantes! Meu esquecimento não duraria mais que isso!).  

Eu fiquei por pensar sobre a nossa incapacidade de concordar com praticamente tudo...fiquei a me perguntar se, em breve, algo será diferente. Fiquei a me lembrar das minhas visões obstinadas de existência, de suas teorias livres. Eu tive certeza que eu me encantaria com suas novas histórias, e que eu te encheria de liberdades ao me ouvir falar. Eu tive certeza de que não precisaríamos de nenhuma massa para acompanhar  o vinho. Nós, esta noite, certamente releríamos o passado com os olhos de contemporaneidade. Criaríamos subterfúgios para reviver o que nos parecesse aprazível (!) e para macular lembranças desnecessárias.

Abro parênteses: sabe o que eu queria mesmo? Queria segredar confissões, falar certezas, pauras, convicções, gracinhas e relatar detalhes inescusáveis de pensamentos tortos, só para ter o prazer de ouvir sua gargalhada gostosa a rir de minhas intensidades, de te ver fazer das grandes questões pequenas bobagens. Ah! Como eu queria isso tudo esta noite!! E queria ouvir meus argumentos serem massacrados por listas; queria sentir o viço de rechaçar suas inquietações sobre a minha fala, para, juntas, construirmos teorias novas e sensatas (ou não!).......queria também te contar que o silêncio tem já o poder de me irritar e que, cada vez mais, me entrego nas entrelinhas das conversas do dia a dia. Isso mesmo! Fecho parênteses.

Amora, agora eu me vou. Não para o canto da cama sua...esta noite não. Aguardo o meu presente de aniversário com os braços tão abertos que poderia abraçar o mundo (quem sabe eles não chegam ai para trazê-lo, confortavelmente, para cá?!). Saiba que eu te amo tanto tanto e que, em breve, poderemos reinventar nossas (novas) individualidades juntas....a essência jamais muda, mas quem melhor do que nós para sabermos recomeçar (e para entendermos isso em meias palavras). Tenho saudades de você sempre....tenho saudades de mim em ti. Amo você!