1.8.12

Manifesto


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Aproveitei esta manhã para me lavar com alvejante. Quero retirar de meu ser toda essa reminiscência de problema alheio que teima em se alojar em minha pele. Eu desejo sair do limbo entre as infantilidades dos demais e as minhas próprias vísceras. Eu quero me tornar distinta de tudo lá fora. Desejo, mais do que nunca, que todo esse barulho cesse. Eu rogo aos seres mais impetuosos que me deixem viver longe de seus dramas fúteis.

Ouço o zumbido que ultrapassa as paredes de meu mundo: coloca o anel, tira o anel, coloca o anel, tira o anel. Estou cansada de ouvir esses atos de grilhões, de sentido tortuoso. Estou desapontada com o telefone que chama antes que eu me recoste para dizer palavras fuzis sobre pensamentos indignos. Estou devastada com conversas que não me dizem respeito e que invadem minhas noites de sono. Estou assustada com a força com que os atos alheios podem afetar os meus dias. E as minhas noites.

Peço altas. Cansei dessa brincadeira contornada de torturas que vocês insistem em jogar. Não, obrigada. Eu não pedi para participar disso. Por favor, recolham os seus gritos e seus atos sem sentido e marchem para longe de mim. Levem os seus anéis, as suas vozes ásperas, os seus telefones e terrores. Mas me deixem ficar. Não quero o menor respingo de suas brincadeiras catastróficas sobre a minha existência. Eu me recuso a ser parte disso e não aceito mais nenhuma gota de suas lastimáveis cores ocres a macular minha pele. E agora peço licença, no estilo mais puramente moçambicano, para ir começar um lindo novo mês. Quem quiser me acompanhar, que siga os meus termos.